Resumo:
A Cirurgia Ambulatória tem-se desenvolvido
de uma forma importante nos últimos anos, observando-se uma grande aceitação desta modalidade assistencial quer pelos clientes
quer pelos profissionais de saúde, porque permite cuidar clientes seleccionados de forma segura, eficiente, com qualidade
e com baixo custo.
Considerada um desafio recente, a Cirurgia Ambulatória é contudo um conceito do passado que se está a tornar uma exigência
do futuro, pelas diversas vantagens que apresenta para os utentes e para as unidades hospitalares.
Resumidamente pode-se considerar que os principais
objectivos da Cirurgia Ambulatória são:
§ O aumento da comodidade do cliente;
§ O envolvimento do cliente e da família nos cuidados;
§ Promoção de uma recuperação pós operatória mais rápida promovendo
assim uma reabilitação sócio profissional também mais rápida;
§ Redução do tempo de permanência hospitalar e do tempo de espera
cirúrgico;
§ Prestação de cuidados individualizados e humanizados.
A cirurgia ambulatória está intimamente ligada à história da evolução da medicina e da enfermagem
dado que a recuperação pós operatória da pessoa no seu domicílio, sendo cuidado pelos seus familiares, segundo orientações
médicas e de enfermagem, precede a história dos hospitais.
Citada em escritos egípcios (3000 aC) é contudo na década de 70, nos Estados Unidos da América que
se verifica o retornar do interesse na Cirurgia Ambulatória, devido à necessidade de aumentar a eficiência da actividade cirúrgica
e de racionalizar os custos nas unidades de saúde.
Este “renovar” de um conceito antigo só é no entanto possível devido aos avanços que
se verificaram nas técnicas cirúrgicas e de anestesia, que acresce a mudança de atitude dos profissionais no sentido da concepção do cliente como um parceiro para a satisfação das suas necessidades de
saúde.
A implementação da Cirurgia Ambulatória pressupõe um
Serviço Nacional de Saúde organizado e estruturado, daí a dificuldade em implementar esta modalidade assistencial em alguns
países.
Portugal apesar de possuir as condições necessárias para a implementação da Cirurgia Ambulatória,
tem visto o seu desenvolvimento realizar-se de um forma lenta, fruto do cepticismo com que é vista por alguns membros da equipa
de saúde, confundindo-a algumas vezes com pequena cirurgia e por isso demeritória e também devido ao facto de os nossos utentes
ainda não terem interiorizado o conceito de parceria nos seus próprios cuidados.
Não sendo a panaceia para todos os males, a implementação da Cirurgia Ambulatória pode dotar o nosso
Sistema Nacional de Saúde de maior eficiência, acessibilidade, humanização, satisfação, e racionalidade.
Nas recomendações para o desenvolvimento de Cirurgia do Ambulatório o Ministério da Saúde (Abril,
2000:4) define Cirurgia de Ambulatório como “a intervenção cirúrgica programada,
realizada sob anestesia geral, loco-regional ou local que, embora habitualmente efectuada em regime de internamento, pode
ser realizada em instalações próprias, com segurança e de acordo com as actuais legis artis, em regime de admissão e alta
do doente no mesmo dia”.
Para Alvarez (2002:24) Cirurgia Ambulatória define-se como …”Atenção a processos
subsidiários de cirurgia realizada com anestesia geral, local, regional ou sedação que requere cuidados pos operatórios pouco
intensivos e de curta duração pelo que não necessitam de internamento hospitalar e cuja alta pode ser dada poucas horas após
a realização do procedimento”.
Considerada por muitos autores como um excelente modelo organizativo, esta modalidade assistencial
permite cuidar clientes seleccionados de forma segura, eficiente e com qualidade, sem necessidade de programação de internamento
hospitalar.
Segundo Seca (2002:3) a Cirurgia Ambulatória permite “tratar um número significativo de
patologias e de pacientes, por um custo significativamente inferior, libertando camas e tempos do Bloco Operatório Central
que deverão ser utilizados para o tratamento de patologias mais graves contribuindo de forma significativa para a redução
das listas de espera”.
Contudo a importância da Cirurgia Ambulatória não pode estar circunscrita apenas a factores económicos
e organizacionais. Existem um conjunto de factores extremamente importantes que a tornam uma modalidade de eleição no tratamento
de utentes cirúrgico.
Na Cirurgia Ambulatória o cliente é um fim em si mesmo. Todos os cuidados prestados pela equipa
multidisciplinar são programados individualmente tendo como actores principais o cliente e sua família.
Conforme refere Morales (2002:4) …“um campo onde se estabelece uma relação com o doente mais em
consonância com a realidade actual, menos paternalista e mais negociada”… “A possibilidade de informação
ao doente, a capacidade de decisão, de eleição e consideração pelas suas condições sociais e psicológicas constituem a pedra
angular desta modalidade assistencial”.
Ainda segundo o mesmo autor a experiência de um cliente assistido em regime de Cirurgia Ambulatória
pode ser comparado a uma viagem. Esta deve ser uma viagem organizada que oferece uma intervenção firme num circuito exclusivo
e com garantia de qualidade, onde a equipa multidisciplinar da Unidade desenvolve uma atenção individualizada evitando surpresas
e dando ao cliente a possibilidade de conhecer todo o percurso antecipadamente.
Esta modalidade implica uma grande responsabilidade para todos os profissionais de saúde. Segundo
Labajo (2002:113) e tendo como premissas a segurança e a
qualidade “as chaves do êxito de um programa de CA baseiam-se no controle de dois pontos básicos:
§ “Em primeiro
lugar é fundamental a organização correcta da unidade – unidade multidisciplinar onde o pessoal deve ser qualificado
experiente e motivado.
§ Em segundo lugar deve existir o controle rigoroso e criterioso dos seguintes passos:
ü Selecção criteriosa do cliente;
ü Selecção criteriosa do procedimento cirúrgico e anestésico;
ü Ensino adequado ao cliente/pessoa cuidadora dos cuidados pós-operatórios e dos procedimentos perante eventuais
complicações;
ü Programação da alta e seguimento pós-operatório.”
Segundo Porrero, (2002:31) “40-60% das intervenções
cirúrgicas podem ser realizadas em regime ambulatório em centros específicos – As Unidades de Cirurgias Ambulatórias
desde que organizadas adequadamente.
Ainda segundo o mesmo autor planificar uma unidade é como fazer
uma viagem com um bom mapa de estradas: sabemos onde vamos, onde queremos parar e até onde podemos chegar.
A enfermagem perioperatória em Cirurgia Ambulatória
A prática de enfermagem perioperatória em contexto de Cirurgia Ambulatória, constitui uma abordagem individualizada,
onde o planeamento dos cuidados respeita integralmente as componentes físicas, psicológicas, sociais e espirituais de cada
cliente.
Segundo Watson e Sangermano (1995:1059) “Os cuidados
de enfermagem devem ser consistentes com os padrões de prática de enfermagem perioperatória estabelecidos, e devem incluir
os familiares e pessoas significativas durante a experiência cirúrgica”.
As acções de enfermagem no bloco de cirurgia do ambulatório dividem-se em três fases: a primeira
tem lugar no acto da marcação da intervenção cirúrgica, onde a identificação das necessidades e o ensino de enfermagem desempenham
um papel fundamental; a segunda compreende todo o tempo de permanência do cliente no bloco operatório; e a terceira corresponde
ao ensino e controlo pós-operatório, visando o auto cuidado e o seguimento pós-operatório.
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